A caminhada pelo Paraguai


Paraguai



Saí de Santa Cruz de la Sierra às 22:00h, estava marcado para sair às 20:30h mas a empresa atrasou a saída. A passagem que inicialmente custava 60 doláres pechinchando e dizendo que eu só poderia pagar 40 dólares, saiu pelos 40 dólares, para viajar quase 2 mil KMs. Antes de o ônibus sair já me deparei com uma figura curiosa que trabalhava para a empresa, um paraguaio com um bigodão grande alá Nietzsche que corria dentro do ônibus de um lado a outro contando os passageiros e entregando o kit, frango com arroz e um refrigerante. O ônibus, como a maioria da frota da Bolívia, já tinha uma certa idade e não tinha banheiro, mas tinha um mais ou menos ar-condicionado, um jovem boliviano a minha frente abriu a janela e o bigodudo deu-lhe uma bronca falando em espanhol e guarani junto, nervoso, dizendo pro jovem nunca mais abrir o "raio" da janela.. Partimos de Santa Cruz, logo dormi, acordei as 05 da manhã com o dia começando a nascer e o ônibus chegando em Bermejo, última cidade da Bolívia cerca de 200 KMs antes da fronteira Bolívia - Paraguai.

Chegando em Bermejo todos descemos do ônibus, mal tinha amanhecido e dezenas de soldados estavam iniciando o treinamento militar, na parede atraz onde os soldados se infileiravam um escrito bem grande em uma pintura - “podemos passar 100 anos sem guerra, mas nenhum um dia sem treinamento”, descemos para entregar o papelzinho de saída da Bolívia, e caminhamos até o posto de migração mais a frente.



No posto, entreguei meu passaporte para receber o visto de saída, o policial olhou meu passaporte e perguntou, ­"--por que esse primeiro carimbo está Anulado?" Eu disse que foi porque o policial achou que eu não tinha o cartão de vacinação, mas que logo em seguida mostrei o cartão e ele carimbou de novo ( na verdade foi porque eu orientei dois brasileiros que tinha acabado de conhecer a não pagarem uma propina de 5 reais cada que o policial que carimbava os passaportes pedia, lá na fronteria Puerto Quiraro – Corumbá BR, ele ficou irritado, não deu o visto que faltava pros meninos, tomou meu passaporte e anulou minha entrada, até que eu e os outros dois brasileiros pagássemos 20 reais cada um de propina, ele queria 50,00 mas a todo instante eu disse ser impossível.. isso num processo de mais de 1 hora de discussões, contei esse caso no post “fronteira brasil-bolivia, propina para passar” ).. Daí senti que este policial caminhava no mesmo caminho de querer me pedir propina, ele num momento pegou meu cartão que vacinação que ta meio veim e disse, -- esse eu não aceito.. Pediu que eu esperasse fora enquanto carimbava a saída dos outros bolivianos passageiros do ônibus enquanto pensava no meu caso..



Esperei e logo entrei novamente na salinha tentando explicar que ele deveria carimbar meu passaporte porque não havia nada de errado, mostrei de novo o cartão de vacinação, ele quis minha identidade, eu disse que a identidade era o passaporte, em um momento falei, meio com cara de quem ta admirado com a situação, meu senhor, está tudo aí na mesa, tudo certo, não devo nada, ele me disse, --“estás de broma?” "tá rindo da minha cara?" eu disse, claro que não, perdoname, quero dizer que está tudo certo apenas e que não tem motivo para o senhor não carimbar minha saída, ele me mandou esperar mais lá fora para pensar o que iria fazer comigo. Daí segui esperando lá fora, trocando idéia com o outro policial, que me perguntou como fazia ligação para São Paulo, dei-lhe todas as instruções ele tomou nota, ficamos amigos, cena muito parecida com a da primeira fronteira, e daí esse mesmo policial disse, olha, aquele ali também é brasileiro e se retirou, e foi aí que conheci o brasileiro Jonny.




Jonny havia chegado ali na fronteira de carona em um caminhão até o meio do caminho, e do meio do caminho até ali numa carroceria de uma caminhonete. Chegou por volta de 23 horas e armou sua rede ali no posto de migração da policia boliviana que estava fechado.. Conseguiu um prato de sopa de uma moradora do vilarejo, esposa do policial que trabalhava na migração, que estava dificultando minha vida para carimbar o visto de saída, e estava muito irritado com a presença do ripie em sua localidade. Ás 03 da manhã Jonny acordou com a chegada de um ônibus que ia rumo ao Paraguai, mas que estava totalmente lotado, e ele sabia que só passaria mais um ônibus, esse que estávamos. Tudo que o policial queria era ficar livre daquele brasileiro ripie que ali tinha se instalado, quase sem dinheiro, com a esperança de conseguir uma carona, caso contrário ia seguir por ali. Minha amizade com Jonny enquanto esperava a decisão do policial fez com que o policial se preocupasse mais, o ônibus ia sair, eu dava caras de que não iria pagar qualquer propina que me fosse pedida, e agora éramos dois brasileiros que o policial queria se ver livre. Me chamou, carimbou meu passaporte por último rapidamente e disse, -- vaí! Chamou o motorista de novo, pediu que levasse Jonny, para se ver livre dele. Subimos rápido no ônibus, pra sorte dele o ônibus tava com quase metade das cadeiras vagas.

Partimos, Jonny começou a me contar seus tantos causos.. Tinha saído de casa aos 17 anos e se colocado a viajar pelo mundo, viajou pela América do Sul, depois viveu 2 anos na Espanha, contou-me os tantos amores que teve e das viagens pela América, esteve em vários países da América Central, tentou ir a Cuba do México mas não conseguiu e há dois anos seguia descendo o continente, naquele momento se dirigia a Blumenau, sua terra natal, para depois de 7 anos viajando rever sua mãe, que não sabia do seu retorno, seria surpresa. O passaporte de Jonny eram folhas e folhas de carimbos, Costa Rica, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, etc, e agora estava indo conhecer o Paraguai e dali ia regressar ao Brasil. Jonny estava a tantos anos caminhando por países de língua espanhola que havia esquecido um pouco o português, misturava palavras em português com o castellano..


Seguimos contando causos, 200KMs depois de Bermejo chegamos na fronteira Paraguai – Bolívia, ali mais fiscalização e mais de 1 hora parados até o ônibus conseguir autorização pra entrar no Paraguai. No exato ponto da fronteira termina a estrada de terra do território boliviano e entra em asfalto no território paraguaio.


Dali seguimos, o Chaco paraguaio impressiona muito, arvóres retorcidas, muita seca e muitas arvóres de algodão silvestre, que têm tipo um barrigão no caule, o ônibus segue em linha reta em um asfalto cheio de trechos onde o asfalto se foi por falta de manutenção, durante horas e horas não consegui ver uma casa sequer, um vilarejo, o Chaco paraguaio é quase que inabitado a primeira vista.. Quando foi chegando na hora do almoço o franguinho com arroz gelado da noite anterior foi servido novamente, pois não havia lugar para parar e o motorista tinha pressa, eu não consegui comer, estava enjoado de arroz e frango, Jonny que estava a mais de um dia sem comer, só com o resto de sopa que tinha ganho no vilarejo Boliviano comeu o dele e o meu. Logo em seguida mais uma parada de fiscalização do Paraguai, muitos policiais, dessa vez, revista em todas as bagagens, roupa por roupa, fiscalização rigorosa de tudo. Voltamos a viagem, 1 hora depois mais uma parada, mais fiscalização.




Mais uma hora de viagem e paramos de novo para carimbar os passaportes de entrada no Paraguai na aduana. Quando chegávamos nessa parada várias crianças vieram correndo até o ônibus, da janela pediam as comidas, passageiros entregavam os restos das comidas e dos refrigerantes e os mesmos eram disputados pelas crianças, sujas, da face indígena mas queimadas e negras de tanto sol, a cena foi muito forte. Ao descermos do ônibus, as crianças desde bebês a adolescentes, todos com muita fome, carregando muita tristeza, aquele cenário de miséria chocou a mim e Jonny, ficamos calados, sentindo, em um momento Jonny conseguiu soltar umas palavras, e disse, --“por isso é importante viajar, para nos darmos conta de que a realidade que vivemos é apenas uma realidade, dentre tantas que existem, para nos darmos conta”, eu não consegui dizer nada, só concordei, tinha vontade de chorar.




Carimbamos o passaporte, na espera conversávamos com o motorista, brasileiros fazem amizade rápido, o motorista brincava com os artesanatos de Jonny e contava que estava viajando a mais de 40 horas, tinha levado o ônibus do Paraguai a Bolívia e estava voltando, direto, tendo dormido apenas algumas poucas horas no bagageiro do ônibus, revesando com o outro motorista, um senhor bigodudo que tinha em sua face estampado o cansaço.. São quase 30 horas de viagem pra ir e quase 30 para voltar, sendo que o trajeto na Bolívia é só de terra e bem perigoso em algumas partes.




Seguimos a viagem, Jonny e eu tínhamos causos de sobra, eu contava das minhas 3 viagens pela Bolívia, Argentina, Peru e Amazônia, e Jonny contava dos 7 anos de viagens e das tantas coisas vividas.. Fomos parados várias vezes pela policia paraguaia, as vezes que eu contei até chegar em Assunção foram 7 paradas, e sempre a policia subia no ônibus, olhava na cara de cada boliviano, e dos dois brasileiros, e pedia os documentos.. Na sétima vez que parou quase chegando em Assunção me deu vontade de dizer para o policial, meu senhor, já fomos parados várias vezes, já revistaram tudo que tinha para revistar, o que nem precisou porque quando ele pediu a identidade de todo mundo o parceiro dele gritou lá da frente, vamos.... ônibus vindo da Bolívia é super suspeito, os únicos não bolivianos no ônibus era eu e jonny, brasileiros da aparência também suspeita...!




Finalmente às 23horas, 25 horas de viagem depois de sair de Santa Cruz de la Sierra eis que chegamos a capital do Paraguai, cabalisticamente cheguei com 25 horas de viagem, sentando na poltrona 25, no dia 25 de Agosto, com 25 anos de idade!!!!




O ônibus deixou os passageiros ao lado da rodoviária, fomos procurar um hotel barato, os primeiros contatos que tivemos pedindo informações nos mostraram que o paraguaio é muito educado e atencioso, todos nos deram muita atenção, explicaram onde ficava o centro e um senhor taxista nos aconselhou a não irmos ao centro naquela hora porque não encontraríamos nada barato por lá, conseguimos baixar o preço de um quarto em frente a rodoviária de 40 mil guaranis por pessoa para 25 mil guaranis cada.. Deixamos as coisas e descemos para comer.. Achamos um anuncio, carne por 10 mil guaranis, sentamos para comer, imaginávamos que seria carne com arroz, salada, com uma guarnição, mero engano, veio apenas a carne e um pouquinho de alface.. perguntei se podia pedir um arroz a parte, não tinham arroz no restaurante, o prato era só aquilo mesmo.. Comemos a carne, eu estava faminto do dia inteiro viajando sem que o ônibus tivesse feito uma parada sequer, até porque não tinha onde parar, o Paraguai do Noroeste à capital que está quase ao Sul é um país desabitado, as poucas cidades vistas no caminho são mais vilarejos, bem pequenos...Tomamos uma cerveja Paraguaia de 1 litro, a Polar, muito boa.. Descemos rumo ao hotel e antes comprei mais um sanduíche para complementar o estômago..




Acordamos com fome de desvendar o Paraguai, tomamos banho e já descemos com as mochilas nas costas, fomos a rodoviária para vermos os preços das passagens, eu do Paraguai queria ir direto para Montevideo no Uruguai, Jonny planejava ir direto a Santa Catarina.. A passagem para Buenos Aires estava 130 mil guaranis ( cerca de 60 reais ) e para Montevideo 260 mil guaranis, tomei um susto, apesar de Buenos Aires estar a uma quilometragem maior que Montevideo a passagem era o dobro do preço, desisti de ir direto a Montevideo e deixei a decisão para ser tomada posteriormente. Jonny também deixou sua decisão sobre o trajeto que faria até Santa Catarina para depois.




Na rodoviária fui cambiar a única nota que tinha, de 100 doláres, dinheiro que tinha que dar para chegar até Montevideo, que eu teria que agüentar por mais 7 dias de viagem. Aí eis o grande susto que tomei, a nota que tinha de 100 doláres não estava sendo aceita no Paraguai, porque era da série D, e o Banco Central do Paraguai por ter constatado que a série D estava sendo falsificada, decidiu emitir uma nota a todo o país dizendo que recusassem trocar notas de 100 da série D. A nota eu havia sacado do Banco do Brasil de Santa Cruz na Bolívia, nota original, que no entanto, o Paraguai das falsificações não me queria aceitar.




Fomos para o centro da cidade, tomamos um ônibus urbano, os ônibus no Paraguai são muito engraçados, tem a cara de caminhões com carroceria de ônibus.. Passamos uma hora e meia dentro do ônibus, no caminho dois senhores encheram de alegria o trajeto cantando duas canções paraguaias, na segunda canção sobre palomitas e amor, no meio da canção em espanhol entrou o guarani, língua falada por 80% da população do Paraguai que é bilíngüe, e daí eu e Jonny ficamos sem entender nada do que havia dito na canção o senhor músico.. Descemos na parada errada porque o ônibus que disseram que ia ao centro passava apenas ao redor, caminhamos um bocado com as mochilas e tomamos outro ônibus que finalmente nos deixou no centro.. Ali chegando, caminhamos e logo começamos a conhecer a rapaziada dos artesanatos de vários países da América do Sul, nos deram muitos toques sobre os hotéis baratos, comidas baratas, como era a policia Paraguaia e etc..




Ali na praça central conheci um amigo ripie uruguaio que me deu o caminho das pedras que eu buscava. Lhe disse que queria ir a Montevideo conhecer o Uruguai mas que a passagem estava caríssima e que estava buscando outra rota. Ele me deu a rota, eu deveria ir para o sul do Paraguai, descer em Encarnacion fronteira com a cidade de Posadas - Argentina e do norte Argentino havia um trem alternativo bem barato que descia até Buenos Aires. Eu deveria ir até Concordia, descer e tomar um barco que me levaria a Salto, cidade uruguaia, e dali tomar um ônibus para Montevideo. O valor gasto nessa longa travessia de ônibus, trem, barco e ônibus seria quase metade do valor que gastaria com a passagem direto dali de Assunção para Montevideo.




Logo chegou a hora do almoço, na praça central descobrimos que uma senhora vinha todos os dias ao meio dia em ponto servir comida a preço popular, a 4 mil guaranis, 5 mil guaranis ou 7 mil, o valor que você dava era o tanto de comida que ela servia. Arroz carretero, macarrão com carne e carne ao molho.. Faz-se fila e depois passa se o prato a outro, enxaguando num balde de água junto com os talheres. A comida é muito gostosa, bem quentinha, uma delícia no preço e no saber, mas não muito higiênico claro, a tia serve a comida e recebe o dinheiro, uma hora uma nota velha caiu na sopa de carne, mas, como dizem, o que não mata engorda e todo mundo só vibrou um pouco mas seguiram comendo e na fila! Ao lado da tia da comida e passando em todos os ônibus circulares e sempre ao alcance, alguém vende um refrigerante da Coca-Cola de 250ml numa garrafinha de vidro pequenininha retornável, te servem num copo, sempre bem gelada, a 1 mil Guaranis, o equivalente a 40 centavos de real. No Paraguai a política da Coca-Cola para vencer os concorrentes nacionais é como em todo lugar o de viciar a população pesado, a cada 10 metros que se anda passa por você um vendedor dos refrigerantes da coca-cola neste preço quase de graça, por essas e outras a Coca-Cola atingiu sua meta mundial no Paraguai, ser mais consumida que água..




Do almoço trocamos mais umas idéias com a rapaziada, jonny foi trampar e fui caminhar pelo centro, nos encontramos novamente ao final da tarde, caminhamos com as coisas até um pelo mesmo preço da noite anterior de frente a rodoviária, pra dividirmos um quartinho que mais parecia um quartinho de motel, risos, luz vermelha e espelho no fundo da cama, o único quarto do hotelzinho que tinha essas características, os outros eram normais.. Na noite desse dia Jonny foi trampar com malabares nos sinais para arrecadar grana e eu fui ao cinema ver um filme, só nos encontramos pouco antes de dormir. Jonny me contou que foi passar pelo Shopping e foi impedido de entrar por causa da sua aparência, os seguranças simplesmente disseram que ele não podia passar por dentro do shopping.. É mole?




No outro dia desocupamos o quarto e deixamos as mochilas no hotel e saímos caminhando pelas ruas em busca de algo mais barato. Conhecemos mais viajantes, depois do almoço fui caminhar pelos arredores do centro. Mais ao final da tarde encontrei Jonny pela praça trampando com os artesanatos, ele disse que ia ficar pela rua e ver mais tarde um canto pra dormir, eu caminhei mais um pouco e consegui um outro hotel que saía por 50 mil guaranis mas conversando com a senhora, explicando que não tinha dinheiro consegui um quarto de duas camas, banheiro e tv por 25 mil para dividir com um chileno que também estava sem dinheiro e precisava pagar metade disso, ele se foi no dia seguinte e eu fiquei mais dois dias no quarto pagando o mesmo valor, foi uma sorte esse hotel, tinha Internet também, economizei mais ainda..




Conheci no dia seguinte um paraguaio muito gente boa, conversamos muito, ele me explicou sobre o momento político que vive o Paraguai, depois de mais de 60 anos no poder consecutivamente, o Partido Colorado deixou de comandar o país e um Bispo de Igreja católica foi eleito presidente com o apoio da esquerda, ha cerca de dois anos, as expectativas, o caráter de esquerda apesar de na prática caminhar na estrada do neo-liberalismo, como na Argentina e no Brasil, a diminuição da repressão com os movimentos sociais por parte do estado e sua policia, a resistência dos indígenas, dentre outros assuntos..




Esse amigo me levou para conhecer el bajo, que é a favela paraguaia que circunda o centro rico da capital, de baixo pra cima, e que está praticamente dentro do centro, centro este que “é uma ilha da fantasia”, nas palavras do meu amigo, que da a impressão de que o Paraguai é um país rico e desenvolvido, como todas as capitais de país que passam uma imagem completamente diferente do que é a maioria do seu país, eu vivo em uma capital assim, Brasília e seu centro rico que nada tem haver com o resto da própria Brasília e da maioria do Brasil. O mesmo se passa em Assunção, seu centro é uma ilha da fantasia, com grandes e modernos prédios, hotéis de luxo e etc.. E los bajos com a maioria da população vivendo a realidade pobre e excluída do país. O amigo então me levou ao bairro baixo do lado do centro, os amigos ripies que conhecemos todos contavam as histórias e aconselhavam para que nunca fossemos ao bairro, que um chileno foi caminhar por lá uma vez e de repente todas as crianças e mulheres sumiram da rua, entraram para suas casas e apareceram vários jovens armados com revolveres e facas e lhe deram uma facãozada nas costas e o jogaram no córrego e disseram para ele nunca mais voltar por ali, todos tinham muito medo de chegar perto do bairro, esse chileno viveu pra contar a história..




E realmente não exageravam com as histórias. Fui com o amigo paraguaio porque ele morava em outro bajo, e conhecia as pessoas dalí. Fiquei bastante impressionado, el bajo é igual a uma favela brasileira, logo no começo mais embaixo me deparei com um córrego extremamente poluído, com as águas ou o que restou de água preto de tão poluído, um porco comendo restos de lixos, muitas crianças e mulheres nas ruas. Logo subimos as escadas semelhantes as escadas das favelas do Rio de Janeiro, caminhamos bastante e saímos no centro novamente, como uma fronteira simbólica a rua que divide a favela e a ilha da fantasia, ali marcando esse simbolismo, 3 policiais caminhavam..




Nos outros dois dias mais que passei em Assunção segui caminhando pelas ruas e observando os hábitos e culturas do povo paraguaio. Na praça central pude assistir nessa noite uma exibição do folclore do Paraguai, as meninas dançando equilibrando várias garrafas na cabeça, dança típica do Paraguai, dentre outras apresentações de cultura e folclore dos índios e dos povos do interior do Paraguai. Dei sorte de passar pelo Paraguai justamente quando acontecia a semana folclórica do país. Me impressionou muito a força da cultura paraguaia, suas tradições e a resistência da cultura indígena.

No outro dia além de caminhar, como não poderia sair do Paraguai sem comprar uma bugiganga elétrica, mais precisamente um MP3 porque eu estava até aquele momento sem nenhum tocador de música, pechinchei, busquei bastante, consegui comprar um MP4 de 2 gigas, com rádio, gravador e etc, por 20 doláres, 37 reais, 85mil guaranis. O danadim durou até Montevideo, exatos 8 dias, quando caíu no chão pela primeira vez, se foi!


Um dia depois parti rumo ao extremo sul do Paraguai, à cidade de Encarnacion, fronteira com Posadas – Argentina. O amigo Jonny seguiu trilhando outro caminho. De Asunción a Encarnacion a vegetação muda completamente do Chaco ao Norte e Oeste para as pampas ao sul, as pequenas cidades do sul tem um poquim mais de habitantes que ao norte, lembra o interior do Brasil, das minhas Minas Gerais, pacato, pessoas sentadas em frente suas casas vendo o movimento das calmas ruas, tomando um chá mate gelado.




O povo Paraguaio com sua receptividade, seu calor humano, marcam o visitante, o Paraguai me surpreendeu e mostrou ser outra coisa completamente diferente do que simplesmente o Paraguai do contrabando que sempre é distribuida pelos grandes meios de comunicação do Brasil. Depois de tantas guerras que arrasaram o país nos dois últimos séculos e depois das ditaduras e 60 anos consecutivo e um século e meio de domínio do conservador partido colorado, que privatizou lei-a-se deu o país ao capital extrangeiro e aprofundaram as desigualdades sociais, o povo vive um momento politicamente de esperança, e segue com seu jeito alegre e receptivo, com calor humano e calor solar, gente que te recebe de braços e coração abertos, pôres-de-sol maravilhosos, muitas cores, Paraguai vive pra sempre em mim!

As fotos das histórias contadas e não contadas dessa caminhada, no link abaixo:




3 comentários:

Talita Wuerges disse...

Bah! Confesso que tive que respirar fundo antes de ler quando vi o tamanho do texto. rsrsrs
Mas valeu a pena. Essas histórias são facinantes e leio com muita vontade de logo colocar a mochila nas costas também.
Só quero comentar duas coisas: no EGEL em Santa Maria nós bebemos Polar, lembras? Será que é a mesma? Fiquei curiosa agora.
Segunda coisa, por que não vieste para Santa Catarina com o Jonny? rsrsrsrs Para Blumenau ainda!
Brincadeira...

Beijos

Diogo Ramalho disse...

Oi Talita!!!!

risos, esse é dos grandes, espero não ter sido prolixo, tentei resumir o máximo a caminhada pelo Paraguai!!!!
Faça como no belíssimo conto que escreveu.. Façamos, pq em dezembro é hora de voltar pra estrada!!
Jonny deve tá chegando por aí por agora.. Quem me derá!!!!
bjos querida!

Anônimo disse...

Oi,

estou indo mes que vem para o Paraguai gostaria de saber qual foi a companhia de onibus que vocês utilizaram para passar para Bolivia.

meu email: nani_gimenes@hotmail.com
Obrigada.

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