Mensagem de Honduras - Entenda o Golpe



"Preferimos morrer de pé do que viver de joelhos. Resistir é vencer"


Neste artigo realiza-se uma análise detalhada da atualidade de Honduras e do poder que têm os golpistas e os empresários que sustentam o regime de facto.

Frente al golpe, la misión es multiplicar la resistencia


Escrito por: Ricardo Arturo Salgado 
Tradução: Diogo Ramalho

Apesar de estar claro há muito tempo que os golpistas são enganadores de grande vôo, a gente crê na opção do diálogo como uma via para acertar as contas de uma crise que já impactou todas as esferas da sociedade hondurenha, e o que conhecíamos como “vida normal” deixou de existir.

Muitos vêem com entusiasmo o avanço do que consideram encenações dos golpistas das quais o presidente se mostra benévolo e ingênuo. Dar tempo aos golpistas é cair na sua armadilha, afirmam com muita convicção e impaciência companheiros que amadureceram na resistência das manifestações e repressões.

Não quero cair em conformismo nem ingenuidade, porém acredito que o presidente Zelaya entende a natureza da gravidade da situação; em Honduras não se enfrentam duas forças equilibradas, nem os número sobre as forças armadas são os mesmos conhecidos antes do golpe. Por isso um passo em falso pode ser catastrófico e desembocar uma tragédia para o povo hondureño.

Vale a pena que nos coloquemos a pensar um pouco sobre alguns aspectos gerais que devem ser levados em conta para analizar a situação no campo das ações. O primeiro é a capacidade de mobilização que as forças armadas tem demonstrado por mais de 100 dias. Se está certo que a resistência tem prolongado suas ações heróicas por este período de tempo, também é certo que devemos avaliar essa capacidade e disposição dos militares.

A quantidade de efetivo, armamento, combustível, alimentos; o custo de armamentos modernos ( o “canhão de dor” foi estreiado pelos gringos no Iraque a menos de dois anos ). Também deve chamar a atenção a ferocidade com que reprimem, que mais parece ter saído de um livro de terror. A brutalidade parece vir de algo mais intenso que o ódio mesmo. Sem lugar para dúvidas existe algo que devemos descobrir e ver com a objetividade que requer o caso.

Fixemos-nos nas coisas que parecem parte do quebra cabeça macabro com as peças: Jorge Canahuati Larach é dono do Jornal La Prensa, Laboratórios Finlay, e se dedica também ao tráfico de armas; Carlos Flores Facussé, dono do Jornal La Tribuna e do Partido Liberal de Honduras (desconhecemos sua participação em outros negócios); Ricardo Maduro Joest, representante do capital salvadorenho em nosso país, com vínculos com meios de comunicação, bancos, imobiliárias e outros interesses em Honduras e América Central. Somamos a outros ilustres cavalheiros, Elias Asfura, com interesses nos setores farmacêuticos e de comunicações; José Rafael Ferrari, chefe da máfia dos meios de comunicação e de desinformação, conectado com o setor bancário, seguradoras e outros; Camilo Atala, banqueiro ex-assessor financeiro de Maduro Joest no seu período presidencial.

Estamos aqui na presença dos representantes mais importantes do capital transnacional no país. As conexões financeiras e de negócios destes tipos com as burguesias continentais são múltiplas. Esta mesma burguesia que vê ameaçado seus interesses em todos os países do continente aonde agora se promovem mudanças populares importantes.

É difícil concluir que esta conspiração se formou sem a participação de todo esse poder e seus recursos. Pelo contrário, fica claro que o desafio constante de Micheletti e seus comparsas perante o mundo, estão respaldados por esse “governo” privado que funciona em paralelo aos estados legítimos da América Latina e que conspiram e bombardeiam diariamente aos governos populares em nossa região.

No caso do combustível, as transnacionais vêm perdendo terreno em todos os países ricos em este recurso, por não ter incoveniente em dar seu decidido apoio ao que perfeitamente pode converter-se em um modus operandi em todo o hemisfério.

Acontece que o Pentágono, controlado por gaviões, representantes dos interesses petroleiros e farmacêuticos, tem funcionado unicamente como coordenador de uma iniciativa mais ampla surgida da direita que não está em posição de ceder um passo de terreno.

Agora sim, podemos explicar a arrogância e capaciadade demonstrada pelo regime de facto; sua impertinência desafiante frante a comunidade internacional; seu total desinteresse em respeitar aos direitos humanos ou a liberdade de expressão, sua capacidade de mobilizar recursos para modelar a opinião pública mundial; sua habilidade para encontrar as pessoas e instituições ideais para levar adiante seu plano.

Aqui podemos também explicar porque, dês do principio, os Estados Unidos moveram Oscar Arias para que este metesse no mesmo saco aos criminosos golpistas com as autoridades legitimas do país. Dês do principio, de forma velada, reconheceram o golpe e o regime resultante dele. A OEA desde então inclinou-se mais para o pacto de San José, que por executar as resoluções próprias de final de junho aonde se exigiam a restituição imediata e incondicional do presidente Zelaya.

A ONU também tem propagado este famoso pacto, ignorando sua resolução de 30 de junho, que contempla as mesmas exigências que a OEA. O mesmo governo gringo evitou a responsabilidade de declarar os eventos do 28 de junho como um golpe militar, apesar do porta voz da policia hondurenha admitir.

Por outro lado, é interessante ver como jornalistas extrangeiros de agências como AFP, AP, Reuters, Notimes, e outras, apesar de presenciar as ações cotidianas de repressão, publicam notas complementamente distorcidas da realidade que estão testemunhando. É possível que suas notas sejam escritas pelos editores dos respectivos meios de comunicação. O fato é que existe uma percepção mundial de que aqui o que temos é um encontro de dois grupos de igual condição, fanatismo, e periculosidade. A nós nos chamam de zelayistas. Vejo que este termo não saí das estéreis mentes de Rodrigo Wong Arévalo, Renato Alvarez o Armando Villanueva, vêm dos profissionais da desinformação contratados pela CEAL (Conselho de Empresas de América Latina).

É também interessante como a SIP se mostra tímida e intolerante com o fechamento dos meios de comunicação e a repressão a jornalistas, quando todos temos visto a ferocidade com que atacam a outros governos da área por ações muito mais soberanas.

Em conclusão, este golpe de estado não foi obra de um grupo isolado de oligarcas hondurenhos; eles são os autores materiais; para encontrar os autores intelectuais tem que seguir a pista do dinheiro. Em Honduras se faz uma luta de interesses muito forte com uma direita decidida a tudo, e um povo latinoamericano obrigado a resistir e partir para a ofensiva.

Ao regime facista só podemos derrubar se o atacarmos continuamente por dentro, e exercermos suficiente pressão sobre a comunidade internacional para que tenha um papel decisivo em este caso. É importante manter e aumentar a quantidade de denúncias. Temos que encontrar uma maneira para que se saiba a verdade; que seja esta verdade que faça com que os povos pressionem a seus governos a serem mais determinantes em suas ações.

É importante, quando falamos de participação internacional, não confundir pressão com intervenção militar. A direita aposta em esta intervenção militar. As experiências anteriores demonstraram que as forças “libertadoras” se convertem rapidamente em forças de ocupação, que culminavam na tarefa repressora não concluída pelo exercito local.

A opção mais conveniente para a pressão internacional para nosso povo é um bloqueio comercial, financeiro que feche toda possibilidade de acesso a recursos e equipamentos para os fascistas. O bloqueio comercial representaria sem sombra de dúvidas um impacto demolidor para o regime. Hoje, por exemplo, todos os dias, especialmente pelas noites, há atividades de aviões de carga nos aeroportos de Honduras. Os golpistas se preparam para resistir, com o bloqueio isto cessaria.

Isso não quer dizer que devemos deixar a outros a tarefa histórica que nos corresponde somente a nós. Devemos empreender ações diversas, não violentas, para expressar nossa descontentação. Recordar a todos que não há nenhum momento em que esquecemos dos crimes que temos sido vitimas. Se vamos boicotar as eleições devemos começar a trabalhar na resistência permanente já. Esse é o chamado do presidente Zelaya, pronunciado a noite.

O presidente constitucional e legítimo entende todas as variáveis que afetam a complexa situação hondurenha. Nós devemos integrar-nos com entusiasmo, valor, disciplina e criatividade à resistência. Devemos deixar para traz divisões provocadas por interesses da oligarquia e passar a assumir nossa posição como o “povo de Morazán”.

Seguimos firmes a diante, até a vitória. Não devemos deixar que nos desmoralizem a campanha dos assassinos!

Somos mais que eles, muitos, muitos, somos um grande povo que não se deixa enganar. Nem a açõa dos traidores deterá nossa marcha inexorável.

Até a vitória sempre!




Retirado de: Resumen Latinoamericano 
Tradução de Diogo Raimundo Ramalho - Estudante da graduação em Letras Espanhol da Universidade de Brasília.


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